Se eu fosse... uma vítima da Inquisição
Eu ainda me lembro quando era mais pequena e ouvia histórias sobre bruxas que voavam em vassouras à noite (e principalmente em noites de lua cheia), que faziam feitiços, transformavam as pessoas em animais e que eram más. Mas nunca, nunca imaginei que fosse uma das várias mulheres suspeitas de o serem; sem nada de mal terem feito ao longo da vida, sem nunca terem pecado ou cometido um crime.
Fui arrastada da minha casa sem saber ao certo do que estava a ser acusada, fui despida e submetida a um rigoroso exame em busca das marcas de Satanás. Sardas, verrugas e um mamilo grande eram considerados alguns dos sinais de que eu, a mulher, teria tido contacto com as forças do mal.
Sabia que a minha única alternativa era confessar e retratar-me, renunciar à minha fé e aceitar o domínio e a autoridade da Igreja Católica, e foi isso que eu fiz. Fingi ser uma bruxa e confessei todos os feitiços que fiz até àquele momento, todos os males, e fui condenada à morte na fogueira. Isto porque muitas das acusadas confessavam aquilo que os inquisidores queriam ouvir, confessavam qualquer coisa que as livrasse de outros meios de tortura, de outros suplícios, sendo a execução – quase inevitável após a confissão – considerada por elas como um alívio para os seus sofrimentos.
Neste momento, encontro-me no Terreiro do Paço, em Lisboa, a caminho da fogueira. Existe uma enorme multidão a assistir à morte de vários condenados. Eu sabia que punir publicamente era uma forma de constranger e intimidar a população e achava isso horrível. Não cheguei a descobrir quem me tinha denunciado e porquê. Talvez me culpassem por uma doença de um familiar ou de animais domésticos, mas já é tarde. Despeço-me deste mundo com uma lágrima a escorrer-me pela cara...
Mariana Freire
Nº16 8º5ª
1 comentário:
gostei muito, esta giro
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