"A Um Homem do Passado"
Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?
Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.
Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?
Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.
Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.
Manuel António Pina, in Nenhum Sítio
Manuel António Pina, poeta e um nome de grande relevo da literatura portuguesa contemporânea, morreu no passado dia 19 de Outubro, no Porto, aos sessenta e oito anos de idade, deixando para trás uma obra vasta e variada, um marco das nossas letras.
Aqui ficam alguns sites com notícias actualizadas acerca da morte do poeta, entrevistas que este deu e locais onde se pode ler a sua poesia online:
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