domingo, 12 de janeiro de 2014

Já chove na biblioteca!
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(nem parece de nuvens) que parece
que não é chuva, mas um sussurrar
que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
como uma coisa certa que nos minta,
como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa

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