terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O amor eras tu

Não tardou a anoitecer. Eram oito da noite e bailavam freneticamente. Beijavam-se e bailavam. Deixavam-se levar, docemente, pela incrível solidão daquele seu baile a dois, procurando, um no outro, o destino por que ansiavam desde o primeiro momento em que tinham dado a mão a alguém, desde o primeiro beijo, da primeira carícia que se tinham atrevido a dar ao primeiro amor.
Um pé para a esquerda, uma anca para a direita. Assim seguiam o ritmo do amor, escondendo nestes passos ritmados todas as fraquezas e impossíveis que os voltariam a assolar quando a música terminasse, uma música que unia, fascinando esses corações frágeis e inocentes que batiam mais rápido do que o ritmo da dança.
Ele sorria, limpo, bonito e confiante de todos os passos dessa melodia do amor. Dizia-se apaixonado. Ela sorria, calma, submissa, cega e amando aquela dança subtil e sua.
Por fim, o gira-discos atolou-se de pó; o vinil era então impedido de girar. Ela chorava como se a sua vida tivesse terminado naquele instante, ou pelo menos a vida feliz. Ele tentava cantar uma nova música, mas não sabia reproduzir a do amor. Não sabia como trazer a felicidade de volta para ela, a sua pequena... amada?
Apertou a sua mão contra a dela. Dirigiram-se ao cume mais alto, íngreme e fascinante do lugar onde se encontravam. Diziam ser o paraíso, talvez fosse um novo caminho para a felicidade pela qual ela tanto chorava e pedia de volta. Ela e ele. Eles. Talvez os pássaros trouxessem uma nova melodia do amor.. Talvez.
Encontravam-se, então, em cima do cume. Ela chorava agora de alegria, de vontade de viver. Ele olhava, esperançado de poder voltar a dançar com a sua amada. Não ouvia nada, apenas o mar que embate contra as rochas, lá no fundo ; apenas o pânico e desilusão que o assolava. 'Como poderia ela ser feliz ali?'- pensava. Como poderia ela deixá-lo, solitário e pouco entendido? O amor não era um gira-discos? Não era uma dança ritmada? O amor não era 'eles'?
Atirou-a do cume no preciso momento em que esta contemplava o pássaro que pousara no ramo da árvore velha e gasta. Ela caiu, ele ouviu o barulho do seu corpo a embater nas rochas. Aquele também não era o som do seu vinil comido pelo pó. Deitou-se no chão. Gritou : 'O AMOR ERAS TU!'. E deixou-se então ali. No paraíso do vale. Na mentira da dúvida. Na perdição de si mesmo. Sem baile ou sequer melodia para o amparar numa nova dança do amor.

Rita,11º7ª

1 comentário:

Anónimo disse...

Que amor tão triste...