quarta-feira, 18 de junho de 2008

Tudo Num Segundo


Primeiro Prémio do Concurso de Escrita Criativa - Ensino Básico


Tudo Num Segundo

Ele prometeu. Diante de toda a corte, de toda a família, diante do seu reino, ele prometeu não se casar com aquela condessa, viúva e mãe de um casal de gémeas. Uma mulher ruiva, elegante e de boas famílias. Não importava que todas aquelas pessoas presentes concordassem, ou se importassem com aquele juramento. O que importava era que ele o prometera à pessoa mais importante, mais especial e mais valiosa do que as suas riquezas, à sua filha, eu.

Poderíamos dizer que isto era um conto de fadas. Uma autêntica história da Cinderela. A única contradição era que “ele” não era um rei, eu não era uma princesa, e o nosso vasto reino se limitava a Forks, uma terra que praticamente ninguém conhece. Todo o resto da nossa história era verdade. O meu rei, mais conhecido por “o meu pai”, um homem viúvo desde que eu nasci, prometeu não se casar. Ele foi sempre recusando as propostas, e até hoje foram muitas… Nuca quebrou a sua promessa, até um dia…

A minha história começa verdadeiramente aqui. Fiz quinze anos, e mal podia saber que a minha vida ia dar uma volta de cento e oitenta graus.

Numa sexta à tarde, quando ia para casa, vi um carro estacionado no lugar que eu sempre tinha visto livre, sempre à minha espera. Achei estranho, e isso foi mais um motivo para me apressar a esgueirar-me pelo pequeno portão que dava para o jardim. Nos poucos segundos que levei a entrar, na minha cabeça navegava a inquietação. Quem estaria lá dentro com o meu pai? Entrei na casa desajeitadamente, quase caindo para a frente. Depois do que vi, preferia mil vezes ter estatelado a minha cara na carpete cor de ameixa. O meu pai beijava uma mulher alta, de olhos castanhos esverdeados. Usava uma roupa casual, calças bejes e uma blusa castanha de cetim. Ambos me olharam com uma cara de espanto. Não sei ao certo se pela minha cara de indignação, se pela sua própria surpresa. Fiquei estática. Não consegui reagir, queria dizer centenas e centenas de palavras, mas estas perdiam-se, quando chegavam à minha garganta. Ouvi apenas a voz do meu pai:

- Kelly temos de falar. Esta é…

- Não pai. Não há nada para explicar… - interrompi-o.

Apesar de tudo a minha voz mantivera-se calma.

- Filha, esta é a Stephanie, a minha noiva. Trouxe-a cá para ta apresentar. Pensei que ias gostar.

Deixei-o acabar de falar. Por momentos, o único som que se ouvia naquela sala era a das nossas respirações. Quebrei o silêncio:

- E a tua promessa? Não pensaste em mim por um segundo que seja? Não pensaste que me irias magoar?

- Pensei em tudo isso. Toda a minha vida pensei em ti. Desde que a tua mãe partiu, a minha vida girou à tua volta. Também tenho o direito a ser feliz. Direito a encontrar uma pessoa. Se me amas, aceita a Stephanie.

Como é que poderia fazer-me aquilo? O meu pai a chantagear-me? A pôr-me contra a parede sem piedade? Tinha de ceder.

- Como queiras. Eu odeio-te. Não a ti pai, mas a ela. – as lágrimas brilhavam na minha cara. Fugi e não disse mais nada.

Os dias foram passando. O casamento acontece e a minha querida madrasta mudou-se para nossa casa. O ambiente estava insuportável. Estava magoada com ambos. Por vezes, ele oferecia-se para me ajudar, mas recusava sem nunca perceber bem o que ela dizia. O meu pai dizia sempre esta frase: “O que será preciso para que a aceites? O que será preciso para a amares?” Naquela altura, para mim, uma autêntica “treta”.

Certo dia, a discussão foi maior. Recebi uma nega enorme. A maior da minha vida. Cheguei a casa e os insultos voavam. Foi a gota de água, quando disse ao meu pai que o odiava. Não sei o que me passou pela cabeça. Não senti nada daquilo. Apenas chorava e espumava de raiva.

O meu pai ficou ainda mais magoado que eu. Pegou no carro e foi por aí. Sentia-me muito mal. Não queria nada daquilo. Eu amava-o. Não o queria magoar. Ele era tudo para mim.

De repente, o telefone tocou. Stephanie atendeu e apenas ouvi os gritos dela. Não percebi de que se tratava. Corri e vi-a debruçada sobre si mesma, chorando. Senti pena dela e perguntei-lhe o que tinha acontecido. Lembro-me daquela frase como se fosse hoje: “O teu pai morreu”.

Ela agarrou-se a mim e disse: “Fica comigo. Eu adoro-te e preciso de ti nesta altura.”

Agora percebi aquela frase. Tinha sido preciso ele morrer para que eu a amasse, para que eu percebesse o quanto precisava dela. O preço foi alto de mais, mas cumpri o seu último desejo.


Joana Neves - 7º 2ª


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