terça-feira, 10 de março de 2009

Caeiro, afinal pensa...

Salvador Dali, "Gala Nua Vista por Trás" (1960)




Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro


No poema, Alberto Caeiro refere-se ao sentimento que nutre pela mulher, tornando-se muitas vezes obsessivo e mostrando muitas vezes sentimentos contraditórios como podemos ver no excerto “Quando prefiro encontrá-la/Quase prefiro não a ver”. Alberto Caeiro, que é o poeta que recusa o pensar, nesta obra vemo-lo muitas vezes a desviar-se desse registo, “Quero só pensar nela”. Alberto Caeiro não quer pensar mas não o consegue evitar, o que se vai tornando evidente principalmente no final da sua obra. O amor por esta mulher fá-lo pensar mesmo sem ele querer, de uma forma que ele não consegue controlar.
Na obra Salvador Dali, vemos a representação leve e natural dos traços de uma mulher, de forma a demonstrar a sua sensualidade que tanto prende o homem de uma forma subtil.
Podemos ver que a relação que sentimos entre estas duas obras é o fascínio que os autores demonstram pelas mulheres, a sensualidade que a mulher transmite de forma a prender a atenção do homem e a tomar conta dos seus sentimentos de uma forma que ele próprio não consegue controlar.


Ana Cláudia Delgado nº2 12º 8

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