terça-feira, 10 de março de 2009

Ilustrar Pessoa



Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

Alberto Caeiro


Escolhi fazer eu a imagem relacionada com o poema, porque já tinha escolhido este poema e a imagem que o ilustrava era sempre a mesma que me vinha à cabeça: alguém a sair de casa e levar com o sol de chapa na cara.
Neste poema temos a dúvida, o ficar confuso e perturbado em relação ao que a Natureza provoca em nós, os sentidos que são despertados. No final fica concluído que não é para ser entendida a Natureza, temos é de senti-la.
Tentei representar esses sentidos no desenho: o seu sorriso de agrado como calor que recebe e o seu olhar confuso, perdido. Quer racionalizar, mas, por fim, deixa-se levar pelos sentidos. Se não nos libertarmos da constante racionalização, é difícil sentir a Natureza, a realidade. Também quis representar a brisa que passa dando movimente aos cabelos e à camisola, e o material usado facilitou-me isso porque esbate e acentua essa ideia.


Leonor Sousa e Costa
N.º 16 – 12º 9ª

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